O poeta nada ama,
e ama tudo o que vê.
Com um poder que não reclama
tem o mundo à sua mercê.
Transforma grãos de areia em galáxias
e todo o universo no seu amor.
Com a caneta voa entre as águias,
contrariando os ventos ou indo ao seu sabor.
Mergulha em ondas eternas,
criando sereias à medida que deriva.
Ergue-se até ao sol no alto
desafiando o calor e a distância.
E como Ícaro cai à terra
de asas quebradas e derretidas.
Mas a caneta não descansa
e eis que o poeta de novo se levanta.
Com um gesto chama de seus o Céu e o Inferno.
Jura um amor eterno.
Pede qu
Uma chamada telefónica:
"Boa tarde."
"Boa tarde. Gostaria de falar com a Sr.ª Dona Joana Costa."
"É a própria."
"Boa tarde, Sr.ª Joana, fala Gabriel Simões, do Gabinete Geral de Pessoas Desnecessárias e estamos a fazer algumas chamadas de rotina, compreende?"
"Sim. Existe algum problema com a minha situação?"
"Bem, sim. Segundo o nosso registo a senhora devia ter morrido há cinco dias."
"Desculpe! Podia repetir?"
"Com certeza. Os nossos computadores dizem que a senhora devia ter falecido no dia 7 de Agosto de 2010, cinco dias atrás. Não recebeu a nossa carta?"
"Não, rea
Monte Velho era uma cidade pequena e onde era preciso sempre andar muito para onde quem que se fosse. Quem quisesse ir às lojas no centro, ao cinema ou mesmo as crianças que iam para a escola, tinham de cobrir pelo menos três quilómetros de estrada poeirenta e direita. Não havia árvores para fazerem sombra do sol abrasador ou qualquer abrigo caso chovesse. Era uma estrada desolada e comprida, sem vida para além das casas que iam surgindo esporadicamente.
Por isso, quando Samanta viu uma jovem mulher sentada num dos cruzamentos do meio da estrada, teve de parar o carro e descer. Perguntou-lhe se estava algo
Era a primeira vez que o Sr e a Srª Silva eram chamados à escola por causa de mau comportamento da sua filha. Preocupados, trocavam olhares quando saíram do carro e entraram pelo portão da secundária. Perguntaram à primeira funcionária que viram onde era o gabinete do director e dirigiram-se para lá, sendo logo mandados entrar, encontrando Marisa sentada numa pequena poltrona, a perna engessada pousada no chão e as muletas apoiadas na parede ao seu lado.
Finalmente! exclamou quando viu os pais.
O que fizeste, Marisa? perguntou o Sr Silva, admirado e preocupado.
Romeu Monteiro e Julieta Capinha conheceram-se quando tinham sete anos. As suas famílias eram amigas e viam ali, num casamento entre os seus filhos, uma maneira infalível de unirem as suas famílias emocional e economicamente. Os seus negócios completavam-se e nada melhor que o casamento das crianças para tornar as coisas mais harmoniosas. Então, aos sete anos, os dois pequenos foram apresentados. Sem terem conhecimento do que as famílias queriam deles, viram um no outro um companheiro de brincadeiras e, naquela idade em que o outro sexo é tão simples como o nosso, tornaram-se amigos.
Porém os
Há alturas na nossa vida em que temos que acreditar que tudo é ironia do destino. Ela, naquele momento, perante o fantasma do passado que caminhava na sua direcção, não podia pensar noutra coisa. Ele, com a mesma máscara traquinas de penetra desavergonhado, caminhava até ela como tinha feito há doze anos atrás. Por momentos jurou que era a primeira vez que o via, que, por um passe de mágica, tinha voltado atrás no tempo. As memórias que guardava no fundo do seu ser daquela primeira noite mantinham-se intactas.
Era uma noite quente de Maio e o seu pai dera uma festa, um simples baile
O meu coração está à deriva
No meio de um oceano,
Vogando pelas marés
De um antigo mar lusitano.
À beira desse oceano
Sentam-se dois cavalheiros.
Um que um dia chamou o mundo de seu,
Outro que ama o calor e coqueiros.
Luso, é como se chama o primeiro
E abriu-me as portas do seu lar.
Recebeu-me sem receio,
Mas parece nunca me aceitar.
O segundo é de Vera Cruz,
O berço onde nasci,
Onde primeiro vi a luz.
Mas diz-me: "estás há muito longe daqui".
E o meu coração anda perdido,
Longe e perto da sua morada.
Num fado sem sentido.
Numa dança quebrada.
Tinha sete anos e estava no segundo ano quando a professora pediu para falar com o meu pai. Não posso dizer que aquilo não fosse normal, mas nas últimas semanas tinha feito os trabalhos de casa e não fizera nada de mal na escola. O meu pai saiu preocupado e, ao tomar a minha mão, não brigou comigo, nem me advertiu. Parecia apenas apreensivo.
Era sexta, as aulas estavam mesmo a acabar e tinha poucos trabalhos de casa, pelo que foi quando estava sentada no chão da sala a brincar com Legos, que ouvi os meus pais a conversarem exaltados na cozinha. Não percebi que era sobre mim. Naquela altura os meus pais